Olhar Atento: Um olhar sobre o Sporting 2011/12

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Os adeptos desesperam por sentir que o seu clube está vivo e que terá força para regressar ao caminho da conquista de títulos. Os últimos 10 anos têm sido vividos numa constante redução de ambição e consequente distanciamento por parte dos adeptos, que não se identificam com a falta de coragem e sede de conquista seguida pelos seus líderes recentes.

À procura de uma identidade a nova Direcção deu o mote com renovada estratégia de aproximação aos sócios, percebendo que será esse o melhor activo do clube (e a única condição que ainda torna o Sporting maior que o FC Porto), renegociação com os parceiros financeiros para lhes fazer ver que só com investimento no projecto desportivo haveria um futuro para o Sporting. O regresso da dupla para o Futebol Duque-Freitas e a contratação de um treinador português, que já demonstrara a sua capacidade para criar um grupo coeso e orientado para os resultados, foi o primeiro passo no caminho correcto.

Passo seguinte, uma profunda remodelação do plantel, com a entrada de jogadores que há uns meses atrás se poderiam considerar completamente fora da órbita de um Sporting moribundo (que inclusive teve que vender o seu principal jogador para fazer face a responsabilidades financeiras). Essencialmente buscando um corte com a mentalidade que vigorava, procurando jogadores com ambição e irreverência para o ataque (Jeffen, Capel, Wolfswinkel, Rubio, Carrillo) e sólidos para a defesa e meio-campo (Rinaudo, Schaars, Onyewu, Rodriguez).

O desafio é tornar um plantel, com inegáveis boas opções, numa equipa coesa e solidária. Tudo começando pela assimilação dos modelo de jogo do novo treinador. E aqui me parece existir a primeira resistência. Se com naturalidade os jogadores interpretam uma maior vocação ofensiva, uma pressão muito mais alta sobre o adversário, maior proximidade entra sectores, há um aspecto que levanta algumas dúvidas: o sistema táctico (4x1x3x2) que o treinador procura incutir.

Olhando para o plantel, apesar da inegável qualidade, Rinaudo está longe de ser um jogador para jogar sozinho a meio-campo. Bom recuperador de bolas, agressivo (por vezes em demasia), rápido sobre o espaço e com bom toque de bola. Mas gosta de subir no terreno, chegar perto da área, procurar o remate. Não tem a cultura posicional de um trinco, que procure o equilíbrio defensivo da equipa, procurando compensar a subida dos laterais ou fazer as devidas coberturas ao meio-campo ofensivo. Para complicar, Djalo, Capel, Carrillo, e Izmailov são jogadores sem as características naturais para ajudar no momento de transição defensiva. A equipa é várias vezes apanhada em contrapé, deixando uma defesa, ainda a ganhar rotinas, exposta mais vezes do que o aconselhável.

Tenho por convicção que em 4x2x3x1 ou em 4x3x3, este Sporting teria o espaço perfeito para crescer. Colocando Schaars ou André Santos mais recuados ao lado de Rinaudo, possibilitaria que Capel, Matias e Jeffren se soltassem mais das amarras defensivas e criassem maior perigo junto da área adversária. Até porque, até ao momento, o Sporting não demonstrou ter no plantel dois avançados de categoria para relegar um destes médios para o banco (a contribuição de Bojinov é ainda uma incógnita, não por dúvidas face à sua qualidade, mas pela continuidade e consistência que possa alcançar). Já Wolfswinkel, Postiga ou Rubio seriam avançados cujas características se adequam perfeitamente a um estilo com maior movimentação e criatividade como pede um 4x2x3x1 ou um 4x3x3. A dinâmica a incutir deveria favorecer a inclusão de 2 dos 3 médios centro na manobra ofensiva, mantendo o equilíbrio estrutural da equipa.

O maior desafio para este Sporting será lidar com as expectativas de uma massa adepta que já esgotou no passado a tolerância perante tanto desperdício de tempo. A mensagem recente da Direcção vem colocar água na fervura, face aos mais recentes desânimos, e procurar passar uma mensagem realista e sóbria: o Sporting vai procurar encurtar distâncias e lutar efectivamente pelo título. Mas não será em 2 meses que conseguirá corrigir erros de décadas.
Por Bernardo Fernandes

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